segunda-feira, 29 de junho de 2009

As Cidades


As cidades estão vazias, não há mais fuga possível dentro-fora delas. Todas se foram, estão imersas em pó e escombros do que, um dia, foi a Criação. Talvez seja o destino de todos nós descobrir, embora tardiamente, que o que sobra, depois do vento, são as palavras guardadas na parte de dentro, aquelas que não foram pronunciadas, jogadas no limbo. Talvez só importe o que sobrou da janela aberta à procura do sol, à procura de algo sólido e perspicaz. As cidades estão vazias dentro de mim, agora. Todas deixaram para trás um resquício de mágoa, de vaga esperança, uma estrela que trouxe bilhões de anos consigo, mas que nunca brilhou de fato, nunca serviu de guia para os deuses que ficaram. Talvez o sossego tão querido estivesse em outro lugar, para além do trânsito, dos governos, dos mistérios. Talvez o que importasse fosse outra coisa, uma visita repentina, um abraço apertado, um sorriso no Éter. Talvez Deus seja outra coisa, outra matemática, menos personificado nos dogmas e mais divinizado na figura daquele meu próximo que passa fome e que nem entende muito sobre essa coisa de deus. A alegria seria dar comida ao meu amigo ou deixar que ele sacie a minha outra fome? As cidades estão vazias. É preciso recomeçar? Sim. Como num eterno retorno. É preciso recomeçar sempre. Enganam-se os que pensam que o ódio preenche outras lacunas, as cidades estão cheias de ódio. Eu sou uma cidade e as cidades estão vazias. É preciso recomeçar. Do pó. Buscar o átomo de cada coisa e juntá-los no maravilhoso e complexo paradoxo das cidades. Dos alicerces ao vegetal. Deixemos as janelas em paz! Comecemos por construir o caminho que nos leva a casa. Deixemos as janelas abertas!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Se correr o bicho pega…

Na edição de ontem, 24/06, O Globo conseguiu ultrapassar qualquer limite de razoável.
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Por: LUIZ NASSIF
Postado no blogue da PETROBRÁS
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Dá manchete sobre uma investigação do procurador Mário Lúcio Avelar contra Wilson Santarosa, da Petrobras, em função do episódio dos aloprados. Diz que o procurador pediu a quebra do sigilo telefônico.
Estranhei. O episódio é de 2006, resultou em inquérito da Polícia Federal, que chegou até o Supremo. Na época foi noticiado que havia sido pedido a quebra de sigilo telefônico. Pensei: será que Mário Lúcio abriu um inquérito em cima do inquérito?
Nada disso. O “furo” de O Globo se refere ao episódio de 2006, mesmo. A matéria foi escrita de uma maneira a dar impressão de que tinha alguma capítulo novo, um novo inquérito. Nenhum. Pegaram uma matéria velha e manipularam para dar a impressão de novidade.
Onde está a armadilha na qual o jornal se enredou? A própria matéria afirma que há um inquérito correndo em segredo de justiça e que chegou até o Supremo. Depois, informa que Santarosa falou 16 vezes com Hamilton Lacerda.
Olha a fria:
1. Se a informação for correta, houve quebra do sigilo do inquérito, o que comprometeria o procurador.
2. Se a informação for incorreta, houve uma falsa acusação ou, no mínimo, (mais) uma barriga.
Ou seja, se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come.
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Clique aqui para ler matéria da Folha, de 8 de junho, antecipando que os senadores da oposição iriam levantar esse tema assim que a CPI fosse aberta. O Globo não dá essa informação.
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Leia aqui a íntegra do post no blog do Nassif, bem como os respectivos comentários.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um total de 1,020 bilhão de pessoas passarão fome em 2009

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o título aí de cima transformar-se-á em realidade dentro em breve. Obviamente a mesóclise entrou mais para lembrar que, se podemos dividir os verbos em pedacinhos, poderíamos, também e principalmente, dividir o dinheiro gerado pelo capitalismo desenfreado (irresponsável) com o único objetivo de gerar lucro aos já muito ricos.
Enquanto isso não acontecer, não adianta o Bono (ou o U2 inteiro) ficar pelado pedindo esmola ou o perdão das dívidas dos países, digamos assim, financeiramente mais fodidos do mundo. Não adianta a ONU, o FMI, a CNBB, a ONG, a casa do cacete gritar, pular, chorar. Todos estão no bolo da culpa e crise financeira mundial, para mim, é apenas uma sigla, que explica-omitindo, sobre como grandes empresas engolem outras grandes empresas para depois se juntarem formando conglomerados e detonando o direito de qualquer peixinho que tenha o disparate de pensar em competir com o Senhor Mercado, acarretando com isso, na alta dos preços, cartéis, redução de empregos e massacre da classe operária, cada vez mais miserável, burra e doente.
Etc., etc.
Se 1/7 da população passar fome, algumas muitas outras coisas estarão fora de ordem, além das já previstas. Um já é um crime, mas um em cada 7 é o fim do mundo civilizado e a morte de deus.
53 milhões só na América Latina! Oremos! Ou vamos todos morar com os orangotangos!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A uébi é livre!


Seguinte cambada, a assinatura para “barrar” o projeto do tucanato de fazer da uébi (como nos transmite o Capitão Pirata) um imenso bbb, latrina vigiada ou coisa que o valha, para êxtase dos coronéis de plantão, está aí, no link abaixo.

http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html

Que os tambores rufando em campo de batalha acompanhe o eco da nossa voz. A internet é livre. Que assim seja!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A luta foi vã?

Pouquíssimas coisas me deixam irritado com facilidade. Não sou lá um grande entusiasta da teoria da bondade e do sentimento fraternal praticado pela raça humana, portanto, também não estou muito convencido da nossa suprema inteligência ou poder de administração Res-Publica-na. Por isso, não é pisando no meu pé que alguém quebrará o meu domingo.
Contudo, o meu presidente (de fato, pois votei neste homem 3 vezes e, ainda, não me arrependo) vir a público e declarar o seguinte: “não li a reportagem do presidente Sarney, mas penso que ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.” e ainda: “O que não se pode é todo dia você arrumar uma vírgula a mais, você vai desmoralizando todo mundo, cansando todo mundo, inclusive a imprensa corre o risco. Porque a imprensa também tem que ter a certeza de que ela não pode ser desacreditada porque, na hora em que a pessoa começar a pensar 'olha, eu não acredito no Senado, não acredito na Câmara, não acredito no Poder Executivo, no STF, também não acredito na imprensa', o que vai surgir depois?” me deixa profundamente irritado.
Irritado porque o meu presidente é mais do que isso. Ele é o representante de uma luta muito difícil travada no campo do idealismo e da ruptura; Lula foi um parto necessário depois de tantos abortos, espontâneos ou não, da democracia. Irritado porque conhecemos a ficha do nosso (nunca)querido ex-presidente Sarney, irritado porque o acúmulo das denúncias é, infelizmente, reflexo de uma corrupção interminável e generalizada.
O Lula é mais que isso, sua cadeira não aceita certos tipos de colocações e o povo não precisa ouvir tamanha barbaridade. Aliás, se os nossos presidentes não puderem ser tratatos como pessoas comuns, então a luta foi vã.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Nova descoberta da Petrobrás abala mídia

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Por Marcelo Salles

Revista Caros Amigos

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A criação do blog da Petrobrás merece atenção não apenas por levar a público informações relevantes sobre a maior empresa do Brasil – isto já era feito por sua página na Rede. O grande diferencial do blog está em sua postura firme e decidida na divulgação de sua versão dos fatos e, o que é mais importante: a crítica contundente – e elegante – do posicionamento editorial das corporações de mídia.

Foi assim com a Folha de S. Paulo, que afirmou em sua edição do dia 6 de junho que a Petrobrás possui 1.150 jornalistas em sua equipe de comunicação, mas não publicou o desmentido enviado pela empresa. No dia seguinte o blog denunciava a omissão. O mesmo foi feito com matérias publicadas pelos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Em postagem no dia 5 de junho, o blog da Petrobrás registra, na íntegra, todas as perguntas enviadas por esses três jornais, bem como as respostas encaminhadas pela empresa. E sempre fazendo questão de dizer que apóia a liberdade de imprensa e de ampla circulação das informações.

Com menos de uma semana de vida, o blog foi alvo de violenta crítica de O Globo. Matéria publicada em edição dominical (7 de junho) acusa a empresa de “vazar informações”: “Empresa quebra confidencialidade de perguntas enviadas à assessoria de imprensa pelos veículos de comunicação”, diz o subtítulo. O texto começa afirmando que a Petrobrás é “alvo de suspeitas de má gestão e favorecimento político em contratos”.

A onda raivosa contra a Petrobrás chegou ao ápice neste dia 8 de junho com a divulgação de nota da Associação Nacional de Jornais (ANJ), espécie de confraria das virgens imaculadas da imprensa. A cara de pau é tanta que o senhor Júlio César Mesquita, que assina a nota, afirma que o blog encampa uma “prática contrária aos princípios universais de liberdade de imprensa” e que se trata de uma “política de comunicação que visa a tutelar a opinião pública, negando-se ao democrático escrutínio de seus atos”. Como, santo Deus, se o blog publica tudo na íntegra – diferentemente das corporações de mídia?

Na verdade, a nota da ANJ é bastante esclarecedora. Se lida ao contrário. Para tanto, basta lembrarmos que atores patrocinaram um golpe de Estado no Brasil, em 1964, em nome da democracia e da liberdade de imprensa. E para que não restem dúvidas vamos consultar a história recente do país e relacionar os setores que sempre lucraram ao manter a opinião pública debaixo de rígida tutela, sobretudo numa época em que não existia a internet – cujas possibilidades põem em marcha uma verdadeira revolução nos meios de comunicação no mundo inteiro. Por fim, vamos notar que esses grupos são os mesmos. E são também os mesmos que juravam de pé junto que no Brasil não existia petróleo...

O argumento político das suspeitas de má gestão e favorecimento político em contratos – todos levantados pela direita entreguista, vale destacar – não se sustenta, posto que acusações semelhantes são simplesmente ignoradas pelos mesmos veículos de comunicação. Exemplo: a denúncia feita pelo deputado federal Ivan Valente ao Núcleo Piratininga de Comunicação de contratos suspeitos firmados entre a editora Abril e o governo do Estado de São Paulo, controlado pelo PSDB. Segundo o parlamentar, nada menos que 10 milhões de reais foram destinados à empresa, sem licitação, só no segundo semestre de 2008.

O fato é que o monopólio dos meios de comunicação de massa no Brasil acostumou-se a descrever o país segundo sua própria concepção de mundo. Como não havia voz discordante, esse sistema sempre esteve à vontade para mentir, distorcer, manipular e omitir informações, sem jamais encontrar uma força política proporcional que lhe opusesse resistência.

Esse momento talvez tenha chegado. Agora, a maior empresa brasileira – e a maior do mundo em tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas – criou uma ferramenta capaz de fazer frente à máquina de propaganda neoliberal. Em menos de uma semana o blog da Petrobrás alcançou nada menos que 100.000 visitas, uma repercussão capaz de desestruturar o esquema dos veículos que manipulam as informações para prejudicar a empresa. Se milhares de pessoas passam a ter acesso aos argumentos da Petrobrás diretamente da fonte, e os comparam com o que foi publicado pela imprensa, então esta imprensa é quem será julgada pelos leitores. A nova descoberta da Petrobrás abalou a tática da mídia grande, que consiste em dizer sem permitir o contraponto.

O acesso a diferentes fontes com o advento da internet, aliás, pode ajudar a explicar o recente relatório divulgado pelo Instituto Verificador de Circulação, que aponta declínio na tiragem dos jornais de maior circulação no Brasil. Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Dia estão entre os que mais perderam circulação, sobretudo neste primeiro trimestre de 2009. Não vendem, nem influenciam tanto quanto antigamente. O Globo, só na última década, perdeu mais de 20% da circulação. Por outro lado, a tiragem dos jornais populares e democráticos vem subindo, como evidencia o próprio blog da Petrobrás e outras tantas iniciativas.

Por fim, é preciso ressaltar que se a maior empresa do Brasil vem mudando a partir da nova gestão – mais contratações em concursos públicos, novos investimentos no país e aumento no lucro líquido – ainda existem problemas que prejudicam substancialmente o desenvolvimento do país, sendo a manutenção da quebra do monopólio estatal do petróleo o mais grave deles. E num momento em que os contratos da empresa são questionados, dou minha contribuição: por que não investir na criação e consolidação dos jornais, revistas e blogs que, faz tempo, têm mostrado que praticar Jornalismo ainda é possível? Uma imprensa que mereça este nome é o pilar que resta ser erguido para a constituição da democracia no Brasil.

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Marcelo Salles, jornalista, é coordenador da Caros Amigos no Rio de Janeiro, editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e integrante do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MEGA-NÃO ao AI-5 Digital - convocação geral

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Postado e conclamado por: Pirata - o Capitão de todas as horas!
http://www.zinedopirata.blogspot.com/
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imagino que tod@s saibam, ainda que apenas superficialmente, de um projétil de lei do $enador tucano eduardo azeredo com o qual, atendendo exclusivamente aos intere$$e$ de seus [dele] adestradores [bancos, gravadoras, $inhá mídia et caterva - enfim, o phoder], pretende implantar na uébi um sistema de vigilância que se pode definir como um híbrido de campo de concentração mental e bigue bróder - George Orwell, o profético autor de "1984", vive...
contrários a isso - e quem, em sã consciência de seus direitos, não haverá de sê-lo? -, grupos de pessoas representantes dos mais variados segmentos profissionais, dos mais diversos movimentos populares, organizaram, e com bastante eficiência e êxito, em São Paulo e em Belo Horizonte, edições de um encontro/fórum [físico, não apenas virtual] chamado MEGA-NÃO ao AI-5 Digital, no qual debateram ações a serem adotadas para um efetivo combate ao citado projétil.
estou disposto - muito, diga-se - a organizar uma edição desse debate aqui em Brasília - dispensável, acredito, explicar o porquê -, mas, óbvio, impossível fazê-lo sozinho - e, mesmo, acredito que o evento assistirá aos ideais de toda e qualquer pessoa que preze o direito à privacidade e à liberdade de expressão -, com o que venho por meio deste plá pedir que, primeiro, divulguem esta minha ação cidadã entre os seus contatos [tod@s serão bem-vind@s, claro, pois idéias nunca são demais, mas, preferencialmente, os que residem em Brasília], divulguem em suas caxangas virtuais, se possível, e, por fim, complementar a essa, a divulgação do linque do blogue que criei para contato - e consequente troca de informações - com as pessoas interessadas em participar, ajudar.bueno, o linque é esse aí, abaixo:
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tenho motivos de sobra para lhes pedir, em razão de segurança [do evento e minha, pessoal], duas coisas:
1) digam aos seus contatos que sou limpinho e que não durmo no silviço; e, muito, muito importante
2) que, ao fazerem contato, digam através de quem tomaram conhecimento da coisa.
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é, era isso.
não me desejem, por especial fineza, sorte e ou bençãos de o deus, pois só quem não se garante precisa disso.
se quiserem, torçam apenas para que não me faltem saúde, saco e lucidez.
para o resto, com paciência e cuspe, sempre dá-se um jeito.
y tengo dicho.
gracias y hasta,
Pirata, um vosso capitão gôche
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quinta-feira, 11 de junho de 2009

O cerco e o circo

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O cerco começou, minha gente!
Na incapacidade brutal, dos Governos e da sociedade, de resolver os problemas sócio-econômicos dos maltrapilhos humanos que moram em favelas, o Estado (que, vá lá, sempre teve preguiça e nojo de olhar para o favelado) resolveu erguer muros com (olha que camuflagem perfeita!) a desculpa da preservação ambiental. Estamos aprisionando os pobres! Mesmo porque, pobre que é pobre nunca teve liberdade. Isso (a liberdade) é frescura da classe média. Pobre toma é porrada “dos PM”, “dos filho viciado”, “do sistema, mermo”!
Saramago, em seu blogue, já escreveu que (liberdade literária à parte) não vê muita diferença entre o de Berlim e o do Rio. Eu, que nada entendo de talento literário, mas morador do Rio de Janeiro e, principalmente, habitante da Baixada Fluminense, posso afirmar que Saramago pode até ter exagerado na estética, mas a intenção, descrita por ele, é a mesma: separar o joio do trigo.
Para quem ainda não viu (porque a mídia nessas horas é cegueta e filha-da-puta), aí está o link do vídeo no UOL:

http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/assistir.jhtm?media=muro-para-conter-favela-gera-polemica-no-rio-0402356EDCA99326
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Outra dica é, se houver tempo, apreciar os comentários maravilhosos dos internautas a favor do muro, logo abaixo do vídeo. Enfim, o muro nunca foi apenas físico. Na verdade, a sua exteriorização é apenas o começo do sonho catártico de alguns.
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E veja também:
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O Pós-Humano

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Era o vazio.
Esse sentimento oco e desgraçado da perda. O cigarro consumido em doses cavalares, a dor, a dor insuportável porque massiva, desavergonhada, mesquinha. Foda-se o bom mocismo de dizer que quem ama quer o bem, quer deixar livre. Conversa fiada. O homem é tosco, bruto, egoísta. Nós queremos a prisão, a posse, o coito no escuro, a trepada fundamental.
Era o vazio.
As horas dentro da penitenciária, o desbotar da cor, a rosa de Hiroshima, o vento morno trazendo más notícias, a dor, dor insuportável... E o mundo pulsando, e as pessoas alegres dentro das vidas melancólicas e entorpecidas de nada. Que ódio das pessoas felizes! Que ódio da gargalhada na esquina!
Era o vazio.
A necessidade da televisão ligada para ter com quem conversar, o café sobre a mesa, o jornal com notícias de ontem, planejada, editada, diagramada, distorcida. Mas não se pode demonstrar tamanho transtorno, é preciso maquiar esse erro humano, botar uma roupa bonita, a sociedade não te deixa ser humano.
Era, agora(?), o vá...
Vai com deus, filha-da-puta, que eu vou pras outras! Tudo mentira. Ele queria era ter uma família de novo, queria trabalhar descansado, queria fazer um churrasco com os amigos e as esposas, queria o limite do pêndulo. Mas é preciso não dizer isso, é preciso ser sufocado, carimbado e ser alcoólatra.
É o Tudo.
E o tudo, diferente do vazio, não é reflexivo. Não há espaço para a humanidade. E o mundo continua a pulsar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Qual a necessidade do liberté, egalité fraternidad?

Publicado por Felipe em seu blogue:
Primus scribere deinde, philosophari
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De que Serve a Bondade
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1
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
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De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
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De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
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2
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
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Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
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Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
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Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A propaganda oficial e a voz do dono

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A Folha de S. Paulo publicou no domingo (31/05) uma matéria muito interessante do repórter e colunista Fernando Rodrigues sobre os gastos da propaganda do governo Lula. O que a Folha vê como ponto negativo na política do atual governo este observador avalia ser a melhor novidade dos últimos anos no setor.
A questão é simples: segundo a Folha, com praticamente o mesmo recurso utilizado na gestão anterior, considerando a correção monetária, o governo Lula anunciou em mais de 5 mil veículos de comunicação. Durante o governo de Fernando Henrique, eram apenas 500 os beneficiados.
A matéria da Folha sustenta que essa prática não é condizente com as regras de mercado e cita exemplos da Fiat e Itaú, que publicam anúncios de alcance nacional em menos de 200 veículos. De fato, o governo Lula não obedece às regras de mercado e esta é a melhor notícia que se pode ter na área da distribuição das verbas públicas para publicidade em veículos privados de comunicação.
Sim, porque com a maior distribuição dos recursos de propaganda, na prática o governo fomenta a democratização dos meios de comunicação. Antes, só os grandões levavam o meu, o seu, o nosso dinheirinho, impedindo o crescimento de outras publicações. Agora, jornais regionais e pequenos também levam e podem se tornar competitivos, o que é ótimo para a sociedade de várias formas: dinamiza o mercado de trabalho do setor, possibilita que diferentes vozes tenham meios de expressar suas ideias, enfim, é tudo de bom.
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A voz do dono
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Dois excelentes colunistas da Folha de S. Paulo – um dos quais o próprio autor da matéria publicada domingo – perderam na segunda-feira (1/6) a chance de ficarem calados. Defenderam a destinação dos recursos oficiais para propaganda apenas aos grandes veículos de comunicação.
O texto de Fernando de Barros Silva, em especial, cairia perfeitamente bem na assinatura do patrão Otavio Frias Filho. Já o de autoria de Fernando Rodrigues é uma análise interessante, mas derrapa nas últimas linhas. Ambos vão reproduzidos ao final desta nota.
A questão, como já se viu acima, é muito simples – simplíssima, aliás –, mas vale repeti-la. Se Lula gasta a mesma verba que FHC gastava com publicidade, poderia fazer duas coisas: manter o padrão de gastos do governo anterior, que privilegiava os grandes meios de comunicação, ou diminuir o quinhão dos grandes e distribuir a verba entre os pequenos.
O governo optou pela segunda forma de distribuir verba e é acusado pelos colunistas da Folha de estar comprando a simpatia dos proprietários de pequenas rádios, jornais e revistas. Ora, se o governo não pode distribuir a verba, resta então a outra hipótese: manter o padrão de distribuição da gestão anterior, na qual praticamente só os grandes veículos tinham acesso aos recursos da publicidade oficial.
Ou seja, os dois Fernandos – mais o Barros e Silva e menos Rodrigues – no fundo defendem mais um capilé para a Folha de S.Paulo e nada para o Diário de Cabrobó do Mato Dentro. Justo? Talvez, mas a verdade é que seria muito mais elegante se o próprio Otavio Frias Filho defendesse a tese, em artigo assinado ou em editorial. Quando jornalistas decidem ser mais realistas que o rei, em geral o vexame é grande.
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Propaganda de Lula chega a 5.297 veículos
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Com PT no Planalto, o número de meios de comunicação que recebem verbas de publicidade federal aumentou 961%
Ao tomar posse, comerciais do petista atingiam 21 TVs e 270 rádios; no fim de 2008 já havia 297 TVs e 2.597 rádios veiculando anúncios oficiais
Fernando Rodrigues, da Sucursal de Brasília
Os comerciais do Palácio do Planalto atingiram no ano passado 5.297 veículos de comunicação no país. O número representa uma alta de 961% sobre os 499 meios que recebiam dinheiro para divulgar propaganda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, quando o petista tomou posse.
Esse padrão de pulverização na publicidade é incomum na iniciativa privada. Segundo dados do Ibope Monitor, a Fiat anunciou em 206 meios de comunicação diferentes no ano passado. O banco Itaú, em 176. Trata-se de uma pesquisa por amostragem, mas mesmo com um desvio de 1.000% o número de veículos nos quais essas duas empresas anunciam não se aproximaria dos 5.297 escolhidos pelo governo federal.
A regionalização da propaganda federal é parte de uma estratégia de marketing do governo. Presidente mais bem avaliado no atual ciclo democrático, Lula viu sua alta popularidade se consolidar numa curva quase paralela ao avanço da distribuição de seus comerciais pelo interior do país.
"O fato de ter ampliado a presença do presidente na mídia regional pode ter ajudado [a elevar a popularidade do governo]", admite Ottoni Fernandes, subchefe-executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que está sob o comando do ministro-chefe da Secom, Franklin Martins.
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Mudança de estratégia
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Diferentemente dos antecessores, Lula regionalizou radicalmente a distribuição de verbas de publicidade. Não houve um aumento expressivo no valor gasto, mas uma mudança de estratégia. Grandes veículos de alcance nacional passaram a receber um pouco menos. A diferença foi para pequenas rádios e jornais no interior.
O orçamento total consumido em mídia por Lula e pelo tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), seu antecessor, oscilou sempre na faixa de R$ 900 milhões a R$ 1,2 bilhão por ano -sem contar patrocínios e outros custos relacionados à produção de comerciais.
No caso das verbas apenas para a Presidência, só há dados disponíveis a partir de 2003. Antes a propaganda presidencial era feita de maneira dispersa pelos vários organismos da estrutura federal. Lula gasta anualmente um pouco acima de R$ 100 milhões com comerciais idealizados pelas agências que servem ao Planalto.
A diferença em relação ao governo anterior é a distribuição das propagandas por muitos meios de comunicação de pequeno porte. Logo depois de tomar posse, os comerciais do petista atingiam, por exemplo, apenas 270 rádios e 21 TVs. No final do ano passado, já eram 2.597 emissoras de rádio e 297 TVs recebendo dinheiro do Planalto para divulgar mensagens da administração federal.
Não se trata de publicidade de utilidade pública. Campanhas de vacinação ou sobre matrículas escolares continuam sendo executadas pelos ministérios. A propaganda produzida pelo Planalto é sobre ações de interesse político-administrativo -como divulgar a lista de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Às vezes o governo também atua como animador da população. No final do ano passado, uma campanha nacional foi veiculada para que os brasileiros não interrompessem o consumo por receio dos efeitos da crise econômica internacional.
"O presidente Lula, se eu pudesse escolher, deveria ser o profissional de comunicação do ano. Ele reduziu, no gogó, a tensão da população, da classe C ascendente. O presidente é ótimo em comunicação integrada. A regionalização da mídia é uma parte. Já existia antes de a crise chegar e ajudou", diz Mauro Montorin, publicitário da agência 141, uma das responsáveis pela conta da Presidência da República.
A capilaridade dos comerciais de Lula pode ser também mensurada pelo número de cidades brasileiras nas quais há propaganda do Palácio do Planalto. Em 2003, eram 182 municípios atingidos. Agora, são 1.149 -uma alta de 531%.
"A mídia regional é mais ligada às comunidades e tem mais credibilidade localmente (...) Partimos para uma política de atender a mídia regional, com mais entrevistas do presidente. Há uma mania no Brasil de achar que a mídia é só em São Paulo e no Rio", diz Ottoni Fernandes, subchefe da Secom.
A diretriz geral é dada pelo ministro Franklin Martins: "A imprensa regional está crescendo no Brasil. O objetivo do governo é se comunicar com a população e esses veículos do interior atingem uma parcela relevante da população".
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Rádios e jornais
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Em 2003, havia 5.772 rádios no Brasil, de acordo com o Ministério das Comunicações. Hoje, são 8.307 emissoras, incluindo as 3.685 chamadas "rádios comunitárias", cujo alcance do sinal é limitado.
No meio jornal, quando Lula tomou posse, existiam 2.684 títulos no país, segundo a Associação Nacional de Jornais; em 2006, último dado disponível, já eram 3.076 veículos.
Uma das razões para a iniciativa privada não anunciar na maioria desses veículos é a falta de mecanismos para auditar a penetração da mensagem e aferir a eficácia do comercial. Poucos jornais no país têm tiragem comprovada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação). Essa entidade só inspeciona 118 dos mais de 3.000 títulos.
O governo afirma exigir comprovação de impressão por parte dos pequenos jornais antes de fazer o pagamento. No caso das rádios, diz Ottoni Fernandes, "há cadastro com todas as emissoras em cidades com mais de 50 mil habitantes", que precisam emitir faturas e dar alguma prova de veiculação do comercial. Essa é uma exigência do TCU (Tribunal de Contas da União), que foi consultado ao longo do processo de regionalização para aprovar os métodos do Planalto.
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Fernando de Barros e Silva
O Bolsa-Mídia de Lula
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SÃO PAULO - O jornalista Fernando Rodrigues deu uma grande contribuição ao conhecimento da máquina de propaganda do lulismo. A reportagem que publicou ontem na Folha mostra como, na atual gestão, o Planalto adotou uma política radical e sistemática de pulverização da verba publicitária destinada a promover o governo.
Em 2003, a Presidência anunciava em 499 veículos; em 2009, foram 2.597 os contemplados -um aumento de 961%. Discriminada por tipo de mídia, essa explosão capilarizada da propaganda oficial irrigou primeiro as rádios (270 em 2003, 2.597 em 2008), depois os jornais (de 179 para 1.273) e a seguir o que é catalogado como "outras mídias", entre elas a internet, com 1.046 beneficiadas em 2008.
O que isso quer dizer? A língua oficial chama de regionalização da publicidade estatal e a vende como sinal de "democratização". Na prática, significa que o governo promove um arrastão e vai comprando a mídia de segundo e terceiro escalões como nunca antes neste país.
Exagero? Eis o que diz Ricardo Barros (PP-PR), vice-líder do governo e membro da Frente Parlamentar de Mídia Regional: "Cerca de 50% das rádios e dos jornais do interior pertencem ao comunicador. O dono faz o jornal ou o programa de rádio. Se recebe dinheiro, passa a ter mais simpatia e faz uma comunicação mais adequada ao governo. Há uma reciprocidade".
Enquanto, na superfície, Lula trata de fazer a sua guerra retórica contra a "imprensa burguesa", que lhe dá azia, no subsolo do poder a engrenagem montada pelo ministro Franklin Martins se encarrega de alimentar a rede chapa-branca na base de verbas publicitárias. É o Bolsa-Mídia do governo Lula.
Essa mídia de cabresto que se consolidou no segundo mandato ajuda a entender e a difundir a popularidade do presidente. E talvez explique, no novo mundo virtual, o governismo subalterno de certos blogs que o lulismo pariu por aí.
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Fernando Rodrigues
Lula, certeza única
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BRASÍLIA - Quando a popularidade de Lula caiu cinco pontos percentuais, há dois meses, frequentou os céus de Brasília a hipótese do "ponto de inflexão" para o petista. Pela análise propagada, legítima, estaria em curso a inexorável trajetória crepuscular na taxa de aprovação de todo o presidente rumo ao fim do seu mandato.
A julgar pela pesquisa Datafolha publicada ontem, a inflexão, se é que houve, foi só um soluço. Por ora, está abortada. A popularidade de Lula segue como uma das únicas certezas sobre o cenário sucessório de 2010. Há dúvidas sobre quem serão os candidatos do PT e do PSDB e se a tese do terceiro mandato tem ainda alguma chance remota de prosperar. Mas inexistem pontos de interrogação sobre o poder de influência do atual presidente no processo de escolha do próximo ocupante do Planalto.
Certeza em política, manda a prudência, é algo a ser tomado com muito cuidado ou desdém. Um fator extra campo, para emprestar uma metáfora futebolística ao gosto de Lula, poderia muito bem ceifar a popularidade presidencial. Mas é necessário reconhecer que a gordura acumulada pelo petista confere a ele resistência para atravessar um eventual deserto. O momento, como se sabe, era outro, mas não custa recordar que nesta mesma época, em 2001, Fernando Henrique Cardoso tinha 19% de "ótimo" e "bom" no Datafolha. Lula está com 69%.
A resiliência inaudita do petista não surge por geração espontânea. Tampouco é fruto apenas da capacidade de comunicação do ex-sindicalista. Tudo é resultado de uma complexa estratégia de marketing. O governo brasileiro pré-PT sempre foi o maior anunciante do país. Agora, sob Lula, elevou essa condição ao paroxismo. Chega sozinho a 5.297 veículos de mídia impressa e eletrônica. O sabão em pó Omo ou políticos de oposição, por enquanto, não são páreo para Lula.