Vejo, neste momento, o senhor Sarney, “que preza a liturgia, cidadão de vida ilibada, vítima de uma campanha sistemática e agressiva”, pedindo justiça e reflito sobre como o diabo é uma figura injustiçada. Como podemos perseguir e odiar o diabo? Ora, meus amigos, o senhor Sarney pede justiça para que ele possa restaurar a paz e a harmonia no senado e vocês perdendo o precioso tempo com o pobre do diabo? Olhem mais para o senado, meu amigos de bem, e tentem ver algo de bom(?) naquilo tudo!
Enxergo a Casa lotada, algumas figuras parecem sair de algum filme de Quentin Tarantino, contudo, Apocalipse Now, do Coppola, também está lá, em câmera lenta, sussurrando algo que Kurtz não conseguiu dizer no filme.
Crivella afirma que o senador Agripino fora muito lúcido (e Agripino está ao lado de Fernando Collor). Renan Calheiros acredita que Mercadante não entendeu bem alguma coisa. Enfim, a verdade é que muita gente falou, mas ninguém disse porra nenhuma! “O horror, o horror!”, mais uma vez me lembra o Coronel Kurtz, do alto da sua sabedoria em pedaços.
A verdade é que não queria falar do senado, comi pizza ontem e não gosto de repetir o prato. Gostaria de, a partir do prostíbulo (ou da casa dos seus filhos), debruçar meu nojo para o que há de muito errado neste país. Contudo, parece ser, o senado, aquilo que está muito errado no nosso território(de novo e de novo e de novo), ele é o estereótipo do que caminhamos, convictos, para ser.
Em tempos nem tão remotos assim, quando um canalha era pego em erro, este manifestava-se imediatamente, semblantes baixos, nó na garganta, e saía a pedir o perdão de todos (parece que na Inglaterra ainda é assim). Vá lá, era tudo panis et circenses, mas havia uma questão moralista: pedir desculpas era fundamental! No tempo presente, não só não se assume o crime como o revertem para o campo da virtuosidade ou de algo parecido com “eu faço, mas todos fazem”! Meus amigos, desde quando cometer o erro que todos cometem(?) é aval para o acerto? Por que, quanto mais vejo os seres humanos de dedo em riste gritar “calúnia!”, mais acredito que a mentira ronda a indignação?
Parece que um sintoma dificultador da cidadania anda rondando o país com alguma insistência nestes 15, 20 anos: o cinismo. É simplesmente impressionante como o homem moderno é cínico. Cínico como nunca. Cínico como jamais se pensou ou ousou ser. Absurdamente cínico.
Cínico como o diabo gosta? Acho que mais do que pretendia o chifrudo. Estamos além do pecado (ele não existe abaixo da Linha do Equador), chegamos ao nível do torpor, da infâmia consciência da impunidade.
Desligo o televisor com a sensação de que o Sr. Sarney cairá, talvez em um mês, uma semana, mas cairá; infelizmente pelos motivos errados. Sarney não será defenestrado porque se utiliza da lama para ser feliz – isto sempre foi uma praxe dos coronéis de plantão –,ele será escurraçado porque é o bode da vez, aquele que apóia o partido que, se não cagar fora do penico ou se a Dilma não morrer, sairá vitorioso das urnas em 2010. Esta é a verdade.
A questão, para o desgosto do Bem e do país, nunca foi a limpeza da Casa, mas a guerra nos bastidores para 2010. “O horror, o horror!”, diria o Coronel Kurtz, mas, cá entre nós, isto já não é o Camboja?